Em um ano onde tivemos overdose de reality shows musicais, podemos dizer que os participantes do American Idol perderam um pouco do seu espaço. Os sentimentos de raiva, amor e loucura não pareceram tão aflorados como em anos anteriores. Uma temporada que prometia muito, rendeu pouco. Um dos melhores grupos de finalistas da história do American Idol acabou se perdendo em meio a temas batidos, escolhas de música inexpressivas e apresentações, muitas das vezes, chochas. Diante de tantos contratempos, chegamos a final sem muitas surpresas. Os dois maiores front runners do programa pareciam que não sobreviveriam até o Top 2, mas chegaram e prometem uma final que pode, sim, surpreender.
De um lado, temos Phillip Phillips. Ele é um dos grandes destaques do programa desde as audições. O jeitão desleixado, um tanto quanto tímido, a voz rouca, quase única, que lembra um pouco a de Dave Matthews, e o carisma inegável, fizeram com que esse loirinho da Georgia logo chamasse atenção. Na audição, sua versão de "Thriller", do Michael Jackson, encantou. A cara de bravo, os trejeitos, a sensação de que o rapaz fosse sofrer algum ataque epilético, tudo mostrava tanta verdade e sentimento, que era impossível não ter certeza de que ali tínhamos um artista puro e verdadeiro. Claro que a beleza do rapaz recheava ainda mais o pacote. Era o toque final que ele precisava para fazer com que milhões de meninas não tivessem dúvidas sobre em quem votar.
Durante as finais, ele começou muito bem, com sua versão de "In The Air Tonight", mas logo depois, caiu na mesmice. Foi difícil para o rapaz encontrar um maneira de se reinventar toda a semana. Todas as apresentações pareciam sempre a mesma coisa, seguiam sempre uma mesma receita. O violão, a bandinha dando apoio, o mesmo ritmo, as mesmas caras. Phillip ia perdendo o brilho, estava enjoando. Mas por trás das câmeras, ele demonstrava mais força que qualquer participante. Phill passou grande parte do programa sofrendo com dores insuportáveis, provenientes de um cálculo renal. Os médicos indicavam mais uma cirurgia. Ele quase desistiu, mas resolveu continuar atrás de seu sonho e seguiu em frente na competição. Sorte que o cantor deve ter ganhado votos de alguns fãs do seu concorrente Colton Dixon, que acabou esconrregando no meio da competição. Na reta final, a apresentação de "Volcano" fez com que ele voltasse a parecer um artista interessante. "We've Got Tonight" deu o empurrãozinho que faltava para ele chegar a final. Phillip teve poucas apresentações realmente marcantes, mas chegou ao Top 2 como um artista único, de nicho, que merecia disputar a final.
Do outro lado, temos ela, Jessica Sanchez. A pequena prodígio tem apenas 17 anos, mas parece uma veterana. Simplesmente não dá pra acreditar que de um corpo tão frágil e magricelo sai uma voz tão poderosa. A diva da temporada agora era teen e tinha descendência latino-filipina. Saiu dos padrões, deu um novo ar ao estilo. Jessica chamou mesmo a atenção durante a Hollywood Week. A garra, a força, a personalidade, tudo saltava aos olhos. Ela parecia uma artista com anos de experiência de palco. E o que falar da técnica vocal? Há anos não parecia alguém que cantasse com tamanha perfeição.
Nas finais, Jessica fazia questão de não soar brega. Alternava sempre baladas com músicas agitadas. Pra quem é fã de Beyoncé e cia, é imprescindível mostrar-se como uma diva contemporânea, que não fica apenas prostrada no meio do palco, cantando, sem se mexer. Pena que a pressão da competição fez com que ela derrapasse em algumas escolhas de música e fosse eliminada logo no Top 7. Um pecado, um verdadeiro erro do público, que os jurados não poderiam de jeito nenhum deixar ir pra frente. Como assim a melhor voz da temporada sendo eliminada tão cedo? Jessica foi salva e recebeu mais uma chance de mostrar que merecia o seu lugar na grande final. Claro que ela não desperdiçou. Com apresentações regulares ela foi comendo pelas beiradas. O grande passaporte para o Top 2 foi sua versão de "And I Am Telling You, I'm Not Going". Parecia que aquela garotinha tinha uma Jennifer Hudson louca para sair daquele corpo pequeno. Jessica chega à final com força, potencial para surpreender e muitos votos herdados de outros candidatos eliminados ao longo da competição.
Phillip Phillips e Jessica Sanchez. De um lado do ring, o garoto diferente, bonitão e amável, que não larga o violão e conquista pela simplicidade, carisma e talento único. Do outro, a pequena diva, com uma voz rara, que não se encontra em qualquer lugar, e com o sonho de se tornar a nova grande voz da música americana. Será que Phill irá garantir mais um título ao grupos dos White Guys With Guitar? Ou será que Jessica Sanchez irá reverter a tendência de vitórias masculinas e garantir o título pra melhor voz da temporada? Na final de amanhã, tudo pode acontecer, só não podemos negar que os dois maiores nomes do show deste ano chegaram onde deviam chegar.